
No retorno às aulas, os alunos de escolas públicas e particulares têm sido obrigados a se adaptar a uma rotina que promete ser desafiadora: é cada vez maior o número de estabelecimentos de ensino que restringem o uso de celulares em sala de aula e, às vezes, até fora delas, durante o horário do recreio.
O argumento é que os aparelhos provocam distração, interferem no aprendizado e dificultam a socialização, pois crianças, adolescentes e jovens preferem ficar grudados nas telas a conversar com os colegas à moda antiga. E isso não está acontecendo apenas no Brasil. Segundo a ONU, um em cada quatro países adota políticas para restringir celulares nas salas de aula. É o caso de Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Portugal, Suíça, Holanda e México.
Na cidade do Rio de Janeiro, os celulares estarão proibidos em sala de aula a partir de março nas escolas municipais, sendo vetados também no recreio, conforme decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes. A decisão foi, segundo a Prefeitura, tomada com base em relatórios da Organização Mundial da Saúde e da Unesco. A medida foi tomada também após uma consulta pública promovida pela Secretaria de Educação, entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, com mais de 10 mil respostas. De acordo com o levantamento, 83% das pessoas se mostraram favoráveis à proibição do uso do aparelho, 11% parcialmente favoráveis e 6% contrárias.
Celular em Sala de Aula: Rendimento escolar afetado ou não?
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos atrapalha a concentração e prejudica a aprendizagem. “É como se o aluno saísse de sala toda vez que vê uma notificação”, diz. O decreto do Executivo abre exceções para alunos com deficiência ou condições de saúde que exijam os dispositivos. Nas redes estadual e municipal de São Paulo, o uso do celular costuma ser permitido apenas para atividades pedagógicas. Escolas particulares no estado também têm procurado restringi-lo em salas de aula.
A questão não é o celular em si, mas seu uso. A tecnologia pode ser uma forte aliada na educação. Durante a pandemia, o celular cumpriu papel essencial ao permitir que alunos sem computador ou tablet acompanhassem aulas on-line. Também não se desconhece o mundo de possibilidades que o dispositivo abre a qualquer estudante. Pode ser uma ferramenta pedagógica formidável para alunos e professores, desde que usada com parcimônia e seguindo a orientação da gestão escolar.
O que dizem os especialistas em saúde?
Especialistas em saúde afirmam que o uso dos aparelhos por longos períodos pode causar ansiedade, instabilidade emocional e até diagnósticos de depressão. Para o pediatra Daniel Becker, o celular atrapalha o aprendizado em sala de aula e tira a capacidade de atenção do aluno: “Ele favorece a distração, a cola, a dispersão dos alunos na turma. Prejudica o aprendizado profundamente e prejudica as relações em sala de aula e no recreio. Os relacionamentos são fundamentais para o seu desenvolvimento e aprendizado e vem sendo prejudicado pelo uso do celular. As crianças ficam isoladas, cada uma no seu celular e isso é profundamente nocivo para todos”.
Já a juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude da capital, acredita que a restrição de celulares nas escolas é urgente. “Há estatísticas que demonstram uma piora acentuada na saúde mental de crianças e adolescentes, como depressão, crise de ansiedade, transtornos alimentares, automutilação. Os estudos mostram que há uma relação direta entre o uso de celulares nas escolas e o aumento desses transtornos da saúde mental por causa de perderem a convivência, esse espaço de relacionamento, de afeto e de experiências humanas dentro da escola”, afirmou a juíza.
É verdade que banir celulares do espaço escolar é uma decisão que parece drástica em um primeiro momento, que deve ser tomada levando em conta seu impacto na rotina de diretores, professores e, sobretudo, dos pais e dos alunos. Mas pode ser plenamente justificável diante do dano comprovadamente causado pelo abuso da utilização do dispositivo. E você, qual a sua opinião?
(Fontes: CNN Brasil e O Globo)