O mundo das doenças infecciosas dá muitas voltas, de forma que alguns microrganismos estão sempre entrando e saindo do foco nos jornais, revistas e programas de televisão e internet. Um deles é o vírus conhecido como Monkeypox (ou Mpox). Desde maio de 2022, a doença ganhou bastante destaque, uma vez que passou a ser observada em países em que não costumava ocorrer, incluindo o Brasil. Na ocasião, a organização Mundial de Saúde (OMS) fez um alerta epidemiológico chamando a atenção dos países para se prepararem para o diagnóstico e manejo da doença.

O vírus é conhecido desde 1958 e o primeiro caso em humanos registrado em 1970 na República Democrática do Congo. Os sintomas incluem dor de cabeça, gânglios inchados, dor no corpo, febre e lesões na pele que costumam se apresentar em forma de vesículas. A transmissão é feita por contato, sendo necessário contato relativamente prolongado, fato que fez com que a doença tivesse um comportamento similar a uma infecção sexualmente transmissível.

As lesões cutâneas são comuns nas regiões genitais e no ânus. Os sintomas duram de 2 a 4 semanas e, apesar de não ser uma doença mortalidade elevada, grupos vulneráveis têm maior risco de doença grave (como crianças e imunocomprometidos). Após esse período, as notícias sobre a doença desapareceram, mas os casos sempre continuaram sendo diagnosticados nos serviços especializados, sendo comentados entre os infectologistas nas conversas e grupos de WhatsApp.

Agora, no dia 14 de agosto de 2024, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a Monkeypox (Mpox) como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O alerta é feito para criar uma resposta internacional coordenada e colaborativa para lidar com a doença e não significa, necessariamente, que ocorrerá uma nova pandemia. A preocupação nesse momento é com a rápida propagação da nova variante da doença, a Cepa 1b.

A variante Clado 1 b, que circula na África Central, é mais fácil de transmitir e está afetando principalmente as crianças. Ela também pode se espalhar por meio de diferentes modos de transmissão e não apenas por contato próximo e prolongado. Não há casos registrados da variante no Brasil até o momento em que esse artigo foi escrito. A República Democrática do Congo (4.480 casos) e Burundi (153 casos) são os países com mais casos Clado 1b. Nigéria tem 901 casos e Gana 127 casos (Clado 2). Outros países têm números maiores de casos.

Para explicar melhor o que é “clado”: um clado é um grupo de organismos derivados de um ancestral comum e seus descendentes lineares. Um clado também são subtipos, genótipos ou grupos que surgem de um ancestral comum. Existem dois tipos de vírus Monkeypox: Clade I e Clade II.

Clade I: causa doenças e mortes mais graves. Alguns surtos mataram até 10% das pessoas que adoeceram, embora surtos mais recentes tenham tido taxas de mortalidade mais baixas. O Clade I é endêmico da África Central.

– Clade II: é o tipo que causou o surto global que começou em 2022. As infecções pelo Mpox do Clade II são menos graves. Mais de 99,9% das pessoas sobrevivem. O Clade II é endêmico da África Ocidental.

A primeira cepa do clado 1b surgiu pela primeira vez em setembro entre profissionais do sexo na cidade de Kamituga, no Congo, a cerca de 273 quilômetros da fronteira com Ruanda. Os dados epidemiológicos da doença são pequenos e preliminares, uma vez que foram avaliados somente os casos detectados e que levaram os pacientes até o hospital, mas a mortalidade nessa população parece variar entre 1 e 10%.

É interessante como as doenças infecciosas parecem vir em ondas e como aprendemos sobre aspectos diferentes delas a cada nova onda (de notícias). Mas, é fato que a Mpox não nos deixou desde 2022 e que talvez vejamos ainda mais destaque nos noticiários quando detectarmos casos no Brasil. Vamos todos acompanhando (e aprendendo).

(https://www.who.int/emergencies/disease-outbreak-news/item/2024-DON528)

(https://worldhealthorg.shinyapps.io/mpx_global/)

Rodrigo Lins – Coordenador Médico, Infectologista. Mestre em Ciências pelo INI-FIOCRUZ. Doutor em Ciências da Saúde pela UCS-RS e Presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro (SIERJ).

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